quarta-feira, 2 de abril de 2008

Prova de fogo de Netinho

FOLHA DE PERNAMBUCO 11/03/2007
Prova de fogo de Netinho



POR: Mariana Fontes

Nos anos 90, a axé music dominou as paradas de sucesso. A primeira leva de artistas que alçaram o gênero baiano ao apogeu era formada por bandas como Chiclete com Banana, Cheiro de Amor, Banda Eva e Asa de Águia. Anos depois, a missão de manter a Bahia bombando nas rádios e programas dominicais caiu nas mãos de grupos como É o Tchan e Companhia do Pagode. Após um certo período de “ostracismo”, o gênero agora parece estar ensaiando uma volta. Uma prova? A escalação da edição deste ano do Festival de Verão do Recife, que será realizado nos próximos dias 16 e 17 de março, no Chevrolet Hall. Das nove atrações que integram a programação, cinco são de axé music. Entre eles, o cantor Netinho que, depois de arriscar uma carreira MPB/pop, resolveu voltar às raízes. Em entrevista à Revista da Folha, o cantor esclarece a polêmica sobre o seu afastamento do Carnaval, falou sobre axé, culpas, ressentimentos e novos projetos.


Você havia se afastado do Carnaval, e agora resolveu voltar a se dedicar a axé music. Por que a mudança?
Eu me afastei da minha carreira como um todo, e não só do Carnaval. Depois de 16 anos de estrada e muito trabalho, resolvi dar uma parada e viver um pouco a minha vida pessoal. Vinha acumulando questões mal resolvidas na minha vida pessoal. Precisei dar um tempo. Deixei de viver parte da minha adolescência e muita coisa na minha vida por causa da música. Família, amigos, meu casamento, minha filha, estava distante de tudo isso. Parei com tudo e foi a melhor coisa que fiz. Fiquei três anos distante da mídia, dos discos, dos shows, de tudo. Passei um tempo fora do País, fui a Londres e Barcelona, repensei minhas coisas.

Você teve medo de que o seu afastamento da axé music fosse considerado oportunista?
Veja bem, quando resolvi dar essa parada, não avisei a ninguém. Foi uma coisa minha, particular. Hoje, vejo que devia ter avisado à imprensa. Mas foi o “calor” da situação na época. Por causa disso há interpretações diversas. Agora estou tendo a oportunidade de explicar meus motivos e de contar essa história. Tenho uma história sólida de 18 anos e não preciso mais provar nada a ninguém. Amo a música, amo o meu trabalho, e amo o carnaval e a música baiana.



Você considera que optar pela MPB/música pop foi um erro na sua carreira?
Essa é outra história que é bom explicar. Sempre gravei música pop em toda a minha carreira. Em todos os meus discos, há música pop ou romântica misturada com os axés - isso desde a minha fase como cantor da Banda Beijo. O fato é que a maioria das minhas músicas que fizeram sucesso foram canções ligadas ao Carnaval. O CD pop da minha carreira, “Outra Versão”, que gravei e lancei em 2005, foi a realização de um sonho antigo. É o meu único CD composto apenas com canções que eu escrevi, que eu fiz.


Mas, não houve pressão da gravadora para que você voltasse para o axé?
Esse projeto do CD pop era um sonho. Um disco compromissado apenas comigo mesmo. Aproveitei que estava parado e fora da mídia e comecei a compôr aqui em Salvador com alguns amigos meio que de brincadeira, de passatempo. Aconteceu que meu amigo Marcos Maynard, presidente da EMI Music naquela época, ouviu as músicas e me convenceu a gravar um CD. Foi maravilhoso. Gravei no meu estúdio Blue Estúdio no Rio de Janeiro e quando vi, estava eu no Faustão lançando o CD e dizendo que estava fora do Carnaval. E estava mesmo, há três anos!

Como você avalia a produção de axé music atual? Você acredita que haverá uma nova onda de axé, como aconteceu nos anos 90?

Torço por isso e estou trabalhando por isso. De três anos para cá, a qualidade das composições da música baiana tem melhorado bastante. Acredito na qualidade, na estética. Para mim, fazer música também é educar. Não gosto das músicas de duplo sentido, nunca gravei. Gosto de poesia e de boas melodias. Fiz um DVD com uma superprodução para mostrar que podemos fazer isso dentro da música baiana. Foi dessa forma que tomamos conta das rádios do Brasil durante toda a década de 90. Só precisamos cuidar da nossa música. Pensar menos no lucro imediato e mais em arte.


Comente o DVD “Netinho Por Inteiro”. Qual o repertório? Quais as novidades que ele traz?

Meu DVD “Netinho Por Inteiro” é o primeiro da minha carreira e, por causa disso, conta toda a minha história. Regravei meus grandes sucessos, todos em novas versões, e também seis músicas inéditas. Foi filmado na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador, e tem um cenário gigante que homenageia a nossa cidade. Tive dois convidados especiais, o Grupo Ilê Ayê e Ivete Sangalo que canta comigo duas canções. O resto, só assistindo.

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