segunda-feira, 6 de julho de 2009

6 de julho: 6 anos

Já eram 21:30, tinha acabado de tomar banho, e quando já ia subir pra dormir, uma vizinha estava com minha mãe na varanda do nosso restaurante. Ela fazia hora por lá, aguardando uma outra vizinha sair do trabalho de uma fábrica téxtil que fica do outro lado da avenida, de frente de nossas casas, para lhe entregar as chaves de sua casa. Então fiquei com elas, conversando, até que a outra saísse do trabalho.

Houve uma hora que minha mãe quis subir. Eu pedi para esperar um pouco, pois não queria deixar a garota sozinha na calçada, desde que os outras vizinhas, de onde ela tinha mais intimidade e mais conhecimentos com elas, já haviam se recolhido, deixando-a ela sem companhia naquele momento. Só havia minha mãe e eu por perto.

Em determinado momento, minha mãe me falou:


- Tu fica aí com ela que eu vou subir, depois tu sobe.

- Não sobe agora não - disse eu.


E ela não subiu, mas foi caminhando rumo à escada.

Nisso, eu estava de frente para a avenida e a menina de lado, olhando para a casa da mulher que iria receber sua chave. Eram umas 21:50, quando ouço minha mãe gritar:

- Olha a moto!!!

No susto, eu pensei que o grito que ela havia dado, fosse pra um daqueles meninos que atravessam ruas adoidados, sem olhar. Mas o que vi foi bem assustador. Vi uma moto voando e se esborrachando no chão, vindo em minha direção, se arrastando no chão, soltando faíscas devido ao atrito com o concreto, como avistei também um capacete rolando no sentido contrário, rumo para a ciclovia.

Vi também que nela, havia alguém e vi durante a queda, os braços do motoqueiro debatendo-se na calçada durante o arrasto da moto, vindo parar praticamente nos meus pés. A moto, ainda triscou em minha mãe, mas só um arranhão de leve. O susto foi tão grande, que a sensação que tive foi de está caindo. O que de fato, qause aconteceu, me faltou pernas pra sair do rumo da moto. Já o guiador, do jeito que caiu, permaneceu na mesma posição até ser retirador pelos homens do IML.

Foi terrível ao ver o rosto daquele homem, derramando sangue por toda a cabeça: olhos, ouvidos, boca. Na queda, que foi praticamente de ponta-cabeça, ele deve ter quebrado o pescoço. Ver todo aquele sangue escorrendo numa vala para escoar água, e tudo isso debaixo da janela do meu quarto, me deixou sem rumo.

Meu pai, que estava vendo o Fantástico, achava que aquele barulho todo era o prédio que estava desabando, ou que minha mãe tinha sido atropelada. De certa forma foi atropelada, mas com ela, sem gravidade quanto foi para aquele motoqueiro, que vinha da cidade de Redenção.

De Redenção até Maracanaú, há trechos na estrada que só há mato, e um retão enorme. E vindo pela estrada, de noite, é um bréu de escuro. Tanto lugar para ele se acidentar, foi acontecer logo perto de nós. E isso me deixou encucado. Na moto, havia uma gaiola-transporte, com dois passarinhos, que nada aconteceu com eles, mas um dos curiosos ganhou os bichinhos.

A avenida, CE-060 ou Mendel Steinbrush, no município de Maracanaú, só havia 3 pessoas que viram o antes, durante e o depois deste acidente. Também não passava nenhum carro no exato momento da tragédia. Depois de ver a queda fatal e olhar melhor o tinha acontecido e cair em sí que o homem morreu no local onde eu estava, subi para meu quarto. Mas a cena pior foi vista por mim de cima: que ele morreu de olhos abertos, que que já havia um monte de curiosos, que não sei de onde foi aparecendo.

Teve uma mulher, que o seu marido não havia chegado em casa e também é motoqueiro, recebeu uma notícia de alguém sobre este acidente, que a levou à um desespero tão grande, que ela teve que ser levada para o hospital, pelo meu pai, para que se acalmar. Ela já estava dormindo, quando batem à porta da casa dela desesperadamente. Eu só a via sentada lá na varanda do restaurante, aos prantos e vomitando. A mulher quase que morre, porque não souberam chegar à casa dela e contar o ocorrido, pois ela achava que era o marido dela que tinha morrido, na esquina de casa. Contaram na doida.

Jamais esqueço daquele dia 6 de julho de 2003. Depois do acidente e já até mais calmo do susto, desci novamente. Sou muito nervoso em certos casos, mas neste, fui muito além. E ficar vendo todo o movimento lá de cima, aí é que me dava mais nervoso.

Das 21:50 até 1h da madrugada, quando chegou o carro do IML, vi muita coisa ainda, por parte dos curiosos. Chamaram até a imprensa para vim fazer a cobertura para aqueles programas policiais.

Emissoras locais: TV Jangadeiro - Barra Pesada; TV Cidade - Cidade 190 e TV Diário - Rota 22, filmaram e pegaram informações. E todas as relatadas à imprensa, foram de pessoas que nem testemunharam o exato momento do acidente, como minha mãe, eu e a menina que estava conversando comigo. Só sei que, se onde há acidente, curiosos vão está lá. E onde haverá imprensa, aí todos fazem a festa, pois sabem que vão aparecer na TV.

Houve um cúmulo de alguém pedir para a filha se ajeitar, pois ia sair no "Barra Pesada", como se tal programa fosse um quadro "Dia de Princesa", do programa do Netinho.... de Paula (ex-Negritude Jr.).

Outro pavor que tive, foi na hora de retirar o corpo do homem: de que na queda, a perna que ficou sob a moto, tivesse sido decepada.

Não, o guiador da moto não estava bêbado. Minha mãe, antes do grito de alerta dela, já havia-o visto vindo quase parando, com o capacete ao meio da cabeça. O grito dela foi porque de repente ele acelerou a moto de repente, rumo em direção dela, mas ela, mesmo com uma bacia trincada, por conta do acidente que ela sobreu em 14 de maio de 1993, dentro de um ônibus da empresa Vitória, quando ela iria levar uma tia dela à cidade de Caucaia, conseguiu pular e sair de frente dele.

A moto acabou subindo a calçada numa velocidade e levantou a traseira. Eu só vi foi ela caindo no chão, o capacete, que foi arrancado da cabeça do motoqueiro por um galho de uma árvore, rolando pela pista, e tudo vindo se arrastando em minha direção.

Depois de toda esta confusão, de já ter levado o corpo e a moto, chegou a hora de tentar ir dormir. Como conseguir dormir depois de ter visto uma cena tão chocante como aquela? Minha cama estava encostada da parede, debaixo da janela. Praticamente sobre os olhos do defunto. Fiquei cismado com aquilo tudo. Não conseguia ficar sozinho no meu quarto, quanto mais dormir. Passei um mês dormindo no chão, num colchão, no quarto dos meus pais.



Comecei aquela semana, em estado de choque. Estava meio choroso do acontecido, assustado no dia seguinte, vendo aquela poça de sangue dentro da canaleta e minha mãe tendo que lavar aquilo durante a semana inteira, pra não começar a feder tudo alí. Quem passava e não sabía, perguntava que sangueiro todo era aquele. E a gente informava do ocorrido.

Eu estava tão assustado, mas tão assustado, que um primo meu me chamou para uma conversa particular em meu quarto, que nem pude dá aquela atenção devida.

Mas nossas vidas tinha que continuar. E aos poucos fui voltando ao meu estado normal.

Só 3 coisas que me chamou atenção em tudo isso.

1º, o antes: Na tarde do dia 6 de julho, havia ido ao shopping de Maracanaú. Lá, comprei um joguinho pra mim e estaa todo animado para chegar em casa e brincar um pouco. No caminho de volta, já que eu estava dirigindo, avistei duas pombas brancas. Achei aquela imagem linda, mas não tinha uma máquina disponível para fotografá-las. Cheguei em casa, subi para o meu quarto e só desci para tomar banho.

2º, o durante: Os dois pássaros que estava na moto, nada sofreram, nem mesmo a própria gaiola.

3º, o depois: Dois dias depois deste acidente, durante um sonho meu, eu estava, no sonho, na mesma posição que me encontrava dormindo. Mas não foi um simples sonho. Eu sabia que estava meio acordado, quando eu vi - entende-se, senti a presença - do homem que havia morrido debaixo da janela do meu quarto, por conta das cores da roupa que ele me apareceu. Ele me dizia para não me preocupar, que estava tudo bem onde ele estava, que eu era pra ficar tranquilo e em paz.

Este terceiro tópico foi o que mais de deixou envocado, até hoje. Mas depois disso, fui me tranquilizando mais. Mas mesmo assim, não conseguia voltar para o meu quarto. Nem mesmo quando a madrasta da minha mãe foi dormir lá em casa. Tentei, mas ao ouvir que ela falava dormindo, fiz de conta que fui beber água, e de fato fui, mas quem disse que retronei. Parecia que havia uma barreira na porta do meu quarto que me impedia de entrar. Sem colchão, me deitei no tapete ao lado da cama dos meus pais.

Só voltei à dormir no meu quarto, depois que fui pegar meu guarda-roupa no nosso apartamento que mantínhamos fechado no Bairro Antonio Bezerra, para encobrir a janela. Afastei minha cama para perto da porta, ficando longe da janela e nunca mais dormi com ela aberta, como já estava ficando acostumado, devido ao forte calor que fazia no interior dos nossos quartos, por conta que a frente ficava contra o sol da tarde.

Também passei a colocar um pano na janela, e isso ajudava à acalmar mais o ocorrido e nunca mais pisei no exato ponto onde o corpo ficou estirado, até quando esquecia, minhas pernas me lembravam: sentia uns formigamentos quentes quando estava no ponto exato onde aquele homem morreu. E esses esquecimentos já ocorreram quando estava nos últimos dias morando por lá.

Ficar no escuro? Nem pensar. Parecia menino-pivete. Quase tive um treco que, dias depois, ainda no efeito do susto, quando deu 3 queda de energia.

Esquecer?! Quem testemunhou aquilo, não tem como esquecer. Tá certo que só fui uma testemunha, mas foi a 1ª vez que vi um acidente com vítima fatal na minha frente. Hoje, está fazendo 6 anos. Mas no dia, eu queria sair daquele lugar de qualquer jeito. Ainda bem que hoje estou longe dalí.


Onde estou com o carro, foi o ponto exato onde o tal homem morreu. A foto foi tirada meses antes, por isso que estou aí. Nosso quarto - nota-se: nosso quarto, somente - entrava naquele corredor, subindo as escadas. Foi o pior lugar onde morei. Não tem como explicar o que foi passar quase 5 anos morando em duas salinhas destinadas à escritório, pelo menos são compridas. O portão, pertence à uma fábrica de peças de metal.

Exatamente onde está este rapaz - e falar sobre ele, é outra história ocorrida em 2005 - foi onde tudo aconteceu, no dia 6 de julho de 2003.

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