quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Revista QUEM Entrevista Netinho.

Netinho | 11/09/2008 08:32

“Eu gosto de meninos e meninas”

De volta com um novo CD após três anos de sumiço, o cantor baiano diz que se considera bissexual, conta as experiências que teve com drogas e admite que usa botox

Valmir Moratelli


Apesar de estilos musicais completamente diferentes, Ernesto de Souza Andrade Júnior, o Netinho, e Renato Russo têm algo em comum. “Eu gosto de meninos e meninas”, revelou o cantor baiano a QUEM, parafraseando, ainda que sem querer, um dos hits do compositor brasiliense morto em 1996. “Mas hoje gosto mais das meninas”, emendou. O intérprete de “Oh, Mila, mil e uma noites de amor com você” – música de um CD que vendeu 12 milhões de cópias – fez esta e outras declarações surpreendentes durante um bate-papo de duas horas, no apartamento que possui no Leblon, no Rio de Janeiro. Depois de quase três anos de sumiço, o cantor baiano de 42 anos está de volta com o 18o CD da carreira, o Minha Praia. Sorridente e articulado, Netinho criticou a banalização da música baiana, assumiu sua bissexualidade e falou da experiência com as drogas e da angústia que o levou a repensar a vida. “Foi um processo tão violento, não sei se estaria vivo se não tivesse parado”, afirma.


QUEM: Por que você deu uma parada?
NETINHO: Parei por dois anos e oito meses. Decidi parar pouco antes de 2005. Estava sem saco para viajar, trabalhar, não queria fazer shows, estava angustiado. Me chamaram de louco, mas não tinha escolha. Foi um processo tão violento, não sei se estaria vivo para dar esta entrevista. Parar foi uma das coisas mais importantes que fiz na vida. Agora trabalho o equilíbrio curtindo a vida. Só fui saber o que é fazer churrasco para os amigos há alguns anos. Tinha tudo o que o sucesso pode dar, mas me sentia vazio.

QUEM: Como deixou essa angústia tomar conta de você?
N: Quando você chega a um nível de sucesso, perde a noção das coisas. Estava conversando com Ivete Sangalo sobre isso, e reafirmei esse pensamento. O artista não tem noção do que é sua vida quando está no auge. Eu vivia amarelo, não tomava sol, me sentia feio, não queria ver ninguém, desmarcava vários programas de TV. A Hebe foi uma das pessoas que ficou chateada comigo. Eu não gostava de mim, não estava a fim de aparecer.

QUEM: É fácil parar de trabalhar quando se tem muito dinheiro, não?
N: Talvez. Não pensei por esse lado. Saí de casa aos 16 anos e tudo o que eu tenho construí sozinho. Não quis dinheiro do meu pai. Não tive infância pobre, meu pai não aceitava que a gente andasse descalço. Mas “nada como viver” (aponta para a frase tatuada no braço direito). Sucesso não vale muita coisa. Tomando banho de piscina com meu ex-empresário, contei a ele que queria parar. Falei: “Que nenhum fã saiba disso, mas tudo que conquistei na música em nada me acrescenta como pessoa”. É tudo pó. Meus discos de ouro, platina, diamante não representam nada. O bem maior que eu tenho é o que proporciono às pessoas.

QUEM: Como seus fãs reagiram?
N: Fiquei nove meses fora do Brasil, entre Londres e Barcelona, para não ver a reação do público. Sei que machuquei muita gente com a decisão de parar, porque o ídolo toma uma dimensão na vida do fã que muitas vezes não sabe. Eu negava autógrafo, negava foto, só pela angústia de não querer ser reconhecido.


O artista não tem noção do que é sua vida quando está no auge. Eu vivia amarelo, não tomava sol, me sentia feio, não queria ver ninguém. Não gostava de mim.


QUEM: Como se recuperou?
N: Sozinho. Não tenho religião, sou contra análise. Sou canceriano, não vivo sem momentos de solidão. É quando mais cresço. Namorada, família não entendem isso. Meus irmãos falavam para minha mãe: “Netinho vai se matar”. E ela: “Isso vai passar”.

QUEM: O que leva a crer que a angústia não voltará?
N: Aos 42 anos, vivo a fase mais feliz da minha vida. Isso se deve mais a meu lado pessoal do que profissional. Estou feliz demais, apaixonado, vendo tudo colorido, estou com uma mulher há um mês e meio, vivendo muitas coisas pela primeira vez. Não perco mais uma rave na vida. Sou o cara que mais dança nas raves, sou o último a sair. Ainda levo o som para o quarto e continuo a rave no hotel. Nunca tinha feito isso.

QUEM: Quantas plásticas você já fez?
N: Fiz duas no nariz, por causa de uma cicatriz. Coloco botox há dois anos e sou viciado em malhação. Adoro ficar malhado para o Carnaval.

QUEM: Já tomou anabolizantes?
N: Já, sim, uma vez. Já viu que sou verdadeiro, né? Tudo que você perguntar eu respondo. Não gostei dos anabolizantes, porque perdi movimentos, o braço não levantava, me sentia pesado. Fiquei com o pescoço horrível. Tomei por decisão própria, aquela coisa de academia. Você começa a malhar e não sai mais da frente do espelho. Passei do limite. Mas não fiquei com seqüela. Nada de cabelo cair, impotência... Tenho voz aguda, nem ficou mais grave.

QUEM: Tem medo de envelhecer?
N: Não tenho problema com idade, sou um moleque. Você precisa me ver numa rave. A última foi em Sauípe, três dias de rave, há quase um mês.

QUEM: Já usou droga nessas raves?
N: Já usei drogas em rave, sim. A experiência foi maravilhosa. Nessa vida a gente tem que provar de tudo, desde que tenha vontade e ache que não vai passar daquilo. A primeira vez que provei foi em Portugal. Foi uma experiência terrível, fiquei louco. Nunca cheirei, só passei cocaína aqui (alisa a gengiva). Não uso porque sei de experiências de pessoas que caíram mortas. Sou ativo, não preciso disso para me divertir. Maconha odeio. Para ficar acordado por muito tempo, basta eu beber energético e vodca. Já misturei álcool com ecstasy. Mas ultimamente só tomo vodca com energético. Meu último porre foi em Sauípe. Sou movido a felicidade.


Já viu que sou verdadeiro, né? Tudo que você perguntar eu respondo. Não gostei dos anabolizantes, porque perdi movimentos, o braço não levantava.


QUEM: Em 2006, você gravou a música “Tá Bom”, incluída nesse novo CD. É uma letra com referência a homossexuais?
N: Não tinha uma música específica para o Carnaval, quando compus essa letra com Carlinhos Brown. E deu uma polêmica enorme, porque fala “menino com menino, menina com menina”. Acho isso uma bobagem, não entendi o tititi. Não era nossa idéia levantar bandeira. Mas é uma música com referência ao homossexualismo, sim.

QUEM: Já teve alguma experiência?
N: Já tive experiência homossexual. Foi há algum tempo, foi interessante. É a filosofia de que devemos passar por tudo na vida. Deus é energia, quando a gente morre é escuro total. Morreu, acabou. A oportunidade é agora. Não dá para deixar nada para depois.

QUEM: Quanto tempo durou essa relação?
N: Três anos, mas não foi com famoso. Não gosto de famoso (risos). Sou anti-Netinho, sou contra essa coisa que cerca o personagem. Não chegamos a morar juntos, não dá certo. Tem que ser cada um no seu canto. O mundo caminha para o individualismo.

QUEM: Você tem uma filha de 10 anos e disse que está namorando uma mulher. Considera-se bissexual?
N: Eu gosto de meninos e meninas, mas hoje gosto mais de meninas. Eu me considero bissexual. Essa relação com um homem foi uma experiência que ficou no passado, linda inclusive.

QUEM: Mudando de assunto, como avalia a música baiana atual?
N: Está numa fase excelente, retomando o espaço que perdeu. Comecei com Cheiro de Amor, Banda Eva, Daniela Mercury, Asa de Águia... Nossas músicas falavam das belezas de Salvador. Aí, há uns oito anos, a música passou pela sua pior fase, quando o pagode baiano da periferia dominou o espaço, explodindo músicas de duplo sentido, como “Boquinha da Garrafa’, “Rala o Pinto”... Isso denegriu a música baiana em nível nacional. Isso é uma avaliação técnica, respeito o trabalho do É o Tchan e de todo mundo.

QUEM: Você nunca cantou pagode baiano nos shows?
N: Tem algumas músicas que eu canto, mas nunca “Boquinha da Garrafa”. O pessoal de Salvador até me olha atravessado, mas deixo minha opinião bem colocada. Eu me sinto herdeiro dos herdeiros do Caymmi, sou herdeiro dos tropicalistas. Matava aula para ir ver Caetano cantar.


FONTE: http://revistaquem.globo.com/Revista/Quem/0,,EMI12054-8219,00-EU+GOSTO+DE+MENINOS+E+MENINAS.html

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Já está on-line no site da Revista Quem uma entrevista que dei há algumas semanas no Rio de Janeiro. Foi um papo bem longo e descontraído com o jornalista quando fiz um bom apanhado de muitas histórias e fatos da minha vida.

Algumas coisas bem interessantes que falei não saíram na matéria. Outras coisas também foram colocadas pela metade, apenas "em partes", não revelando exatamente tudo o que falei ou como falei, deixando se perder o sentido exato do que eu queria dizer.


(Confirmou Netinho, em seu blog.)



NETINHO SOBRE A ENTREVISTA PARA A REVISTA QUEM, EM SEU BLOG.

Minha gente, obrigado pelas mensagens enviadas aqui para o meu blog.

As pessoas que acompanham a minha carreira desde o início sabem que NUNCA falei da minha vida pessoal em qualquer entrevista.
Sempre me limitei aos meus afazeres e fatos do artista.

Dessa vez porém, foi diferente.

Não sei o exato motivo pelo qual dei esta entrevista dessa forma mas, como muitas outras coisas em minha vida, isso tinha que ter acontecido.
E exatamente da forma como aconteceu.

Agradeço à Revista QUEM pela entrevista, apesar de fazer algumas ressalvas.

Como disse no post anterior aqui do blog, algumas coisas que eu falei não aparecem na matéria e outras tantas não aparecem por completo. Mas isso é algo que acontece frequentemente nesta relação de pessoas públicas com jornalistas.
Faz parte dessa nossa vivência.
Não é nada saudável, mas acontece.

Dei uma entrevista franca, sincera, relatando com exatidão alguns fatos passados da minha vida.
Abordei temas polêmicos, eu sei, mas foram aquelas experiências relatadas ali que me ajudaram a construir a minha personalidade e o meu caráter.
E me orgulho de cada uma delas pois, sem elas, não seria o homem que sou hoje.

Tudo o que aprendi com o que já vivi; todas as lições que tirei de cada momento; são coisas que passarei para a minha filha que está no começo de uma vida e enfrentará pela frente um mundo muito mais agressivo do que o que me recebeu.

E digo que quero ainda experimentar de tudo o que a vida e o mundo ainda puder me apresentar, se por acaso sentir vontade.
Apesar de ter até na minha própria família pessoas e fatos que me empurram a acreditar em alguma continuidade da nossa vida após a morte, prefiro não deixar nada para depois. Por causa disso, e em contraponto a maior parte dos meus anos já vividos, aprendi a viver a vida intensamente.
E me sinto hoje um homem muito feliz.
Como nunca fui.

Uma coisa que quero dizer é que a Revista QUEM não escreveu ali nada além do que eu disse na entrevista. Apenas pecou por não ter colocado na íntegra todas as minhas palavras. Por causa disso, alguns trechos publicados não expressam com exatidão o que eu falei e o que eu penso.

A experiência com drogas, por exemplo, foi única e ficou no meu passado.
Quando eu digo hoje a alguém "NÃO USE DROGAS!", não falo da boca prá fora nem faço uso da hipocrisia. Falo com propriedade pois experimentei e, apesar de ter sido uma experiência interessante naquele momento, percebi que a droga nada acrescenta à vida de qualquer pessoa.
É um caminho sem volta, uma porta para uma fuga sem sentido da realidade.
Um atalho para o fim.
Tenho uma filha de dez anos e é este o aprendizado que vou passar para ela. Não por ter lido em algum livro ou por ter ouvido de alguém. Eu aprendi isso vivendo realmente, experimentando, e digo que é algo desse mundo que não leva a nada.
Foi exatamente isso o que eu falei para a Revista QUEM mas, infelizmente, não foi publicado.

Também em relação à minha carreira e a tudo que conquistei através dela. Quando eu digo que tudo que consegui com a música não me acrescentou em nada como ser humano, me refiro à percepção que tive anos atrás do real valor de ser famoso, de conquistar fãs, de atingir o sucesso. Tenho hoje a exata convicção de que o que levamos de tudo isso não é a fama, o sucesso, o dinheiro, os milhões de discos vendidos. O que realmente vale prá mim e me constrói é o que eu conquistei ou posso conquistar nas pessoas.
É o que posso fazer para elas.
Uma emoção, um sorriso no rosto, os momentos de felicidade que consigo proporcionar a alguém através da minha arte, esta sim é a minha verdadeira riqueza.
Falo isso como uma observação pessoal, observando tudo de "fora" do artista que também sou.
Já na ótica puramente artística, me orgulho muito da minha carreira e de tudo que fiz. Gravaria novamente todas as músicas que gravei, faria os mesmos shows, tudo da mesma maneira como fiz!
Também falei exatamente isso para a Revista QUEM mas não foi publicado.

Outra questão que me incomodou na entrevista foi a maneira como colocaram a minha observação sobre a música baiana. Fiz uma avaliação técnica desses vinte anos de axé music que também não foi publicada na íntegra.
Isso distorceu de alguma forma o que eu quis dizer.
Quando falei do surgimento do pagode baiano e das letras de duplo sentido que também ajudaram a fazer o sucesso desse movimento, não foi com a intenção de denegrir ninguém ou de desrespeitar ninguém. Até porque falei de amigos, de colegas, de artistas que respeito e que têm o seu público, que não é pequeno. Disse que nunca cantei essas músicas nos meus shows apenas por uma questão de não me identificar com aquelas letras, de não perceber qualquer ligação artística com a linha de trabalho que sempre desenvolvi na minha carreira. E nunca cantei mesmo, é verdade!
Falei também, e muito, da música "Toda Boa", lançada há dois anos pelo grupo Psirico, e que canto em TODAS as minhas apresentações. É uma canção do repertório do pagode baiano que eu gosto, admiro e me identifico.
Isso também não foi citado na matéria.

Quanto à questão de eu já ter vivido uma experiência amorosa com alguém do mesmo sexo que o meu, acho impressionante como uma história desse tipo ainda mexe com algumas pessoas em pleno século XXI.
Sou homem, vivi esta experiência como homem e de forma verdadeira e sincera. Nada do que vivi nesta relação maculou o meu caráter ou o meu jeito de ser e de tratar as pessoas.
Fui muito feliz naquele período e viveria tudo outra vez, sem problemas.
Vivi porque senti naquele momento e fui fiel aos meus sentimentos e desejos.
E me orgulho de ter agido assim.
Penso que a gente vem prá essa vida é prá ser feliz e não para ficar dando ouvidos ou se preocupando com o que os outros falam de nós.
Tolos são os que agem assim.
Nada mais estão fazendo do que perder tempo e vida!
Não é o meu caso.

Fora essas coisas, tudo o mais que falei sobre a minha carreira, sobre os novos projetos, sobre o meu próximo carnaval de Salvador, sobre a gravação do meu próximo DVD, tudo isso não foi incluído na matéria revelando claramente a opção do editorial da revista pelos temas mais polêmicos.

Tive hoje a curiosidade de ler alguns dos comentários deixados em alguns sites da internet onde a minha entrevista foi publicada e, sinceramente, nada do que foi escrito ali me surpreendeu.
Sou uma pessoa pública e por causa disso aceito qualquer tipo de opinião a meu respeito. Até mesmo aquelas que não correspondem em nada ao que sou. Afinal de contas, poucas pessoas me conhecem a fundo e o que a maioria conhece é apenas aquela "figura" do artista que vive, independente da sua vontade, mergulhado nesse caldeirão de fofocas, disse me disse, etc.

Para quem lê o meu blog com frequência, sabe exatamente o que penso do ser humano.
Sei o quanto somos diversos e há pessoas de todos os tipos.
Isso não me incomoda.
Francamente, não estou aqui nesta vida para agradar a gregos e troianos. Nem Jesus Cristo conseguiu tal façanha. Como disse, respeito todas as opiniões dos que não me conhecem realmente, mas são palavras que nada me dizem. Me importa é a opinião dos que me conhecem, dos que sabem do meu caráter, da minha responsabilidade e da minha maneira de agir com o mundo.

Nada do que escreveram ou que possam escrever mudará o orgulho que tenho de toda a minha vida e da minha carreira.
Vivo hoje o momento mais feliz da minha vida toda e ter a liberdade de colocar a público experiências passadas, de poder contar um pouco da minha pessoa, sem dúvida é parte dessa felicidade.
É isso.
Um abraço a todos.

Netinho.

postado por Netinho @ 20:51




Netinho faz contestações sobre a entrevista da Revista QUEM.
http://www.atarde.com.br/audios/index.jsf?id=962970

Um comentário:

  1. Eu já desconfiava disso, tantos pelas histórias que já me contaram desde agora como de muitos anos atrás, o que significa que nada mudará a minha admiração por Netinho.

    Cada um sabe o que faz de sua vida, com seu corpo, com seus sentimentos. Quem sou eu para julgá-lo? Não me interessa se é famoso ou "normal".

    Grandes homens passam por grandes desafios. E este será mais um grande desafio que Netinho irá vencer.

    "O preconceito, está impregnado nas cabeças das pessoas pobres".

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