segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Netinho abre o jogo e fala tudo sobre sua carreira

Foto: Fred Pontes/divulgação
por Jansen Sandes - Fotos: Fred Pontes



Restando pouco mais de um mês para o Carnaval, o cantor Netinho recebe o Carnasite e concede uma entrevista exclusiva. Netinho conta tudo sobre sua carreira na axé music e no MPB, sobre seu "desaparecimento" da mídia, como chegou a ofender seus fãs, sobre seu retorno à música baiana e ainda sobre sua relação com Ivete Sangalo.




Netinho volta com tudo
para a axé music e
desenvolve novos projetos


Carnasite: Após um grande sucesso na axé music, você resolveu tentar carreira com o POP/MPB... Depois ficou por quase três anos parado e ressurgiu com a gravação do seu DVD em parceria com a Caco de Telha. Fale um pouco sobre essa transição, e sobre seus quase 20 anos de carreira.

Netinho: Olha, primeiro essa historia do pop é equivocada. Na verdade eu dei um tempo na minha careira como um todo, não só no axé. Há cinco anos por motivos pessoais, por estar de saco cheio de tudo, não queria mais viajar, não queria mais fazer shows, não queria mais nada, e não entendia o motivo disso, que era um motivo meu, de sentir um vazio, eu era um artista que tinha tudo que o sucesso pode dar pra uma pessoa naquela época, e me sentia vazio ao mesmo tempo, me sentia infeliz, triste e pelo meu volume de trabalho eu não percebia isso no meu dia-a-dia, então eu resolvi parar tudo, parar de fazer show, parar de ir a TV, parar de gravar disco, parar com rádio, dar um tempo na minha carreira para rever e repensar minha vida toda sem data pra voltar.

Nesse momento eu cometi um erro muito grave, que foi não dar nenhuma nota à imprensa. Eu que era um artista, que sempre habituei as pessoas a estar sempre na mídia, nos programas de TV, sempre dando nota a imprensa. Tomei essa decisão por um motivo pessoal, desapareci, fiquei nove meses fora do Brasil. Voltei pra cá e não saia de casa, então esse erro deu margem ao surgimento de muito boato ao meu respeito. Que eu tava morando em Portugal, que eu tava com AIDS, que eu tinha largado o axé, que eu não ia mais voltar pro carnaval e pronto.Fiquei dois anos e meio sem fazer nada, morando em Guarajuba, e comecei a me reunir com alguns amigos compositores, Tenison Del Rey, e outros amigos, e começava a fazer música. Tem um detalhe que muita gente não sabe, eu, enquanto compositor, não sei fazer música de axé, não tenho esse dom, já tentei, não consigo, minha música ou vai pra um lado mais MPB que é a base da minha formação musical ou para música pop, fica entre esses dois estilos, então fizemos 60 canções naquela época, e comecei a gravar um disco de brincadeir. Aí meu empresário, vendo aquele movimento em minha casa, ligou pro presidente da EMI Music, naquela época que era Marcos Mainá e disse, "o Mainá, Netinho está gravando um disco em casa", sacanagem dele né?

Porque eu não queria aquilo, era uma coisa de brincadeira e era uma realização minha. Resultado, Marcos Mainá foi a Guarajuba, em minha casa, viu o meu trabalho, ficou louco com as músicas, e disse: "não, vamos gravar, temos que fazer um disco, borá pro Rio, borá pro Rio"... Aí, eu disse: "Rapaz, eu não to cantando, não to fazendo show", e ele: "Netinho vamos lançar esse disco, vai ser massa, um disco pop seu, projeto especial".

Fui pro Rio, ele me convenceu, quando eu vi já estava no Faustão no domingo de tarde sem boné, vestido todo de preto, de calça Jeans com o violão na mão, cantando Abra a sua Cabeça, uma música minha. Aquela imagem meio que chocou as pessoas, porque eu estava há quase dois anos desaparecido da mídia e aquela imagem ali não era o Netinho que as pessoas queriam ver, as pessoas queriam ver o Netinho de bermuda, de boné, um Netinho alegre dos carnavais, cheio de roupa colorida. Então aquilo gerou uma polêmica muito grande, primeiro a rejeição por parte das pessoas, o disco vendeu 30 mil cópias, pra mim foi uma vitória naquela época, e era a realização de um sonho e gerou aquela confusão, Netinho está fora do carnaval e eu disse realmente pro Faustão que tava fora do carnaval, e estava fora do carnaval há dois anos, não vou mentir, mas não foi uma opção pela música pop, aí pronto, teve aquela confusão toda, o próprio Marcos Mainá presidente da EMI, naquela época me convenceu a gravar um DVD, disse: "Netinho, a mídia DVD explodiu no Brasil todo, você sabe, e você com a história que tem, precisa registrar tudo num DVD". Eu tinha dois VHS, um filmado em São Paulo e um em Portugal, mas não tinha nada em DVD. Aí pronto, o DVD que eu gravei há dois anos e meio atrás "Netinho por Inteiro" marcou a minha volta. E tinha uma forma mais feliz e equilibrada, por quê? Porque nesses dois anos e meio eu consegui criar a vida pessoal que eu não tinha, não tinha, só trabalhava. Hoje eu viajo, faço show, se dar vontade passo no hotel depois do show tomo um banho e vou no barzinho, vou numa boate, saiu com meus amigos, saiu com o fã clube, quer dizer, curto minha vida. Quando eu não quero fazer show, aviso ao escritório, reservo duas, três semanas, viajo pra onde eu quero. Essa parada que eu vivi há cinco anos atrás foi após 16 anos de carreira, de muito trabalho.


Netinho faz exercícios antes do show.

Carnasite: Você sente falta do seu sucesso no passado? Gostaria que as coisas voltasse a ser como eram antes?

Netinho: Eu não sou hipócrita, não vou dizer a você que eu não quero isso, porque a meta de todo artista na verdade é essa, o artista não quer ser artista pra ficar dentro de casa cantando pra sua mãe, pra seu filho e pra seu pai, não quer! Ele quer que seu trabalho seja reconhecido pela maior quantidade de pessoas, que seja admirado, que seja gostado, eu quero isso pra mim, já conheço sucesso, já tive no pico mais alto que se pode ter no Brasil, foi maravilhoso. Mas isso hoje não é prioridade pra mim, hoje eu sei aonde eu quero chegar, claro que eu quero sucesso, quero ser reconhecido mais uma vez pelo trabalho que eu faço, mas não é uma prioridade diária. Quero colocar minhas idéias pra fora, eu estou me sentindo começando do zero, cheio de idéias, cheio de projetos pra fazer, alguns a gente já estou colocando em prática, o projeto Luau Mix é um projeto, o Cara a Cara é outro projeto que são sucesso absoluto. Graças a Deus aonde eu vou sou muito bem recebido, sou muito bem querido não é? Eu até brinco às vezes, comento que essa coisa do diminutivo Netinho às vezes gera até certo carinho por parte das pessoas, porque as pessoas se sentem mais íntimas, não sei, mas todo mundo tem me recebido bem, to feliz demais cara, e o sucesso virá como conseqüência disso aí!


Carnasite: Qual sua visão atual do mercado da axé music?

Netinho: Uma visão boa, na época em que eu parei, eu tinha uma visão muito ruim do mercado do Axé, estava até meio desgostoso, porque depois de passarmos a década de 90 inteira dominando as áreas do Brasil inteiro, começamos a misturar, nós eu digo muitos artistas, letras pejorativas dentro de uma história que tinha como marca letras bonitas, letras que falavam de amor ou falavam da Bahia, do carnaval de salvador, do povo da Bahia, conquistamos o Brasil com isso, então teve uma época que surgiu o pagode baiano e os artistas de Axé, que eu faço separação, pra mim axé é uma coisa e pagode baiano é outra, então, com o sucesso local visado do pagode baiano de Salvador, alguns artistas de axé começaram também a colocar letras duplo-sentido nas suas músicas tipo: "Boquinha da garrafa e etc."

Eu não gosto disso, eu não acho saudável, e meio que entre aspas, denegriu a música baiana naquela época. Lembro até que um advogado amigo nosso de Brasília na época disse: "Netinho, eu sempre tive os disco de vocês todos numa prateleira no meu escritório em Brasília e quem chegava lá achava bonito, era exótico a música da Bahia, Banda Mel, Banda Beijo, Banda Eva, Chiclete com Banana, e depois disso eu tirei, porque ta virando uma coisa, como é que se diz, deixou de ser sensual para ser sexual, apelativa", ele tirou da prateleira, eu acho que isso queimou um pouco a musica baiana no Brasil, e eu acho que de cinco anos pra cá está havendo uma nova consciência, não só por parte dos artistas do axé, mas principalmente dos empresários, está todo mundo gravando letras melhores, tem músicas lindas nas rádios gravadas por artistas de axé, e estamos voltando a conquistar as rádios do Brasil, está voltando a tocar aos pouquinhos no Brasil, não exatamente como na década de 90, porque foi a nirvana para os baianos, mas estamos reconquistando esse público e as artes com qualidade, eu acho que estamos ganhando qualidade vamos retomar esse mercado de rádio com qualidade, com letras bacanas e melodias bacanas, é isso que estamos fazendo agora, o que ta todo mundo fazendo.


Carnasite: Você e Ivete Sangalo têm uma boa relação desde o tempo da Banda Eva. Hoje pode-se dizer que ela também faz parte de sua volta ao axé? A que se deve o seu desligamento da Caco de Telha?


Netinho: A Caco de Telha foi fundamental pra mim, foi quem investiu no DVD junto comigo, e fiquei lá durante dois anos. Ela conduzindo a minha carreira, os meus projetos todos, os programas de TV, enfim, toda a minha carreira.




Netinho canta com fãs
durante show

A Caco é uma empresa muito grande, muita gente trabalhando e Ivete é um grande produto lá dentro, e eu, sou canceriano agoniado, ansioso demais, eu quero fazer tudo ao mesmo tempo, então o tempo todo eu to fazendo projetos, e lá tinha aquela coisa de "vamos planejar", "vamos devagar", então eu já não tava agüentando isso, como eu te disse eu to me sentindo no começo, cheio de projetos de coisas pra fazer, e a Caco de Telha não tinha como me dar a atenção que eu necessitava, então eu preferir logo depois do carnaval de 2008, abrir a minha própria produtora que é a Bem Bolado produções. Trouxe pra cá a condução da minha carreira, todo o marketing da minha carreira, divulgação, e mantive também na Caco a venda de shows, como a Bem Bolado vende, e outros parceiros também vendem, além da parceria em alguns eventos do Cerveja e Cia com a Ivete Sangalo.


Carnasite: Como é hoje sua relação com seus fãs? Você foi perdoado pelo desaparecimento da música sem satisfação?

Netinho: Totalmente perdoado, e não foi só pelo desaparecimento não, não sei se vocês sabem, mas há na internet uma carta minha que eu escrevi na época que eu estava pensando em parar, porque eu não agüentava mais encontrar fã-clube em aeroporto, eu saia desesperado quando chegava ao aeroporto e saia correndo pra a van, não queria falar com ninguém, e machuquei muita gente nessa época, porque como eu te disse, adquiri esse amadurecimento que eu tenho hoje depois dessa parada que eu dei e naquela época eu não enxergava que o artista quando ele cativa uma pessoa ,ele as vezes ocupa um lugar tão importante na vida dessa pessoa quanto um pai, uma mãe, um irmão, um esposo, uma esposa, hoje eu sei exatamente essa importância e tenho essa noção.

Na época eu mandei uma carta horrível para os meus fãs, e como eu estava num processo pessoal muito complicado, não fui nada sutil e delicado nessa carta, disse realmente que eu não queria ver ninguém, que estava cansado de tudo, que eu não agüentava mais tirar foto, que não era aquilo que eu queria. Mandei via internet essa carta, e digo a você com a maior sinceridade, meu maior agradecimento hoje nesse momento na minha carreira é a todos os fãs meus que souberam me receber de braços abertos quando eu voltei, nem aquele cartão de crédito famoso paga, não tem preço isso aí, eu acho que apesar de tudo, eu sempre fui verdadeiro na minha carreira, eu sou meio controverso em algumas coisas, então, quando eu quis parar eu parei, quando eu disse que não queria ver ninguém, não queria ver, quando eu quis lançar um disco pop eu lancei, então eu acho que a verdade por mais que às vezes você possa machucar alguém em algum momento é o que lhe dá o reconhecimento das pessoas com o passar do tempo, eu acho que é por aí, então fui muito bem recebido, todos os meus fã-clubes estão de volta, fã-clubes novos nascendo, gente jovem que influenciados até por aquelas pessoas daquela geração estão indo nos shows e gostando do trabalho, eu não tenho como agradecer essas pessoas, é muito amor, muito carinho.


Carnasite: Quais são as dificuldades que você vem enfrentando desde o recomeço de sua carreira?

Netinho: Uma delas é em relação ao carnaval de Salvador, nesse tempo que eu fiquei parado o bloco Beijo ficou parado também, eu me desinteressei pelo bloco, não é mais o meu bloco Beijo hoje, e eu sou um artista baiano que adora fazer carnavais, que faz um carnaval maravilhoso por aí, mas não tenho um bloco em Salvador, temos uma parceria com o bloco Trimix há três anos, uma parceria maravilhosa que iremos manter, nesse carnaval vou estar no bloco Trimix mais uma vez sexta e sábado, mas não tenho um bloco em Salvador. Essa é uma dificuldade que eu vou ter que vencê-la, e a outra é em relação aos grandes eventos de axé no Brasil que estão nas mãos das produtoras que agiram nesse tempo em que eu fiquei fora. Então é o que eu estou fazendo hoje, procurando criar os meus próprios eventos, devagarzinho, tenho dois projetos hoje que é o Cara-Cara, e o Luau Mix, que já é um projeto maior e vamos chegando lá aos pouquinhos. É uma maneira de furar esse mercado que está ai, sem machucar ninguém, sem incomodar ninguém, indo devagarzinho, ganhando as pessoas pela qualidade do meu trabalho e por tudo que a gente faz.

Carnasite: Fale um pouco sobre seu último CD. É realmente sua praia? Você assina a direção e produção musical?

Netinho: Esse disco é o 18º da minha carreira, com 90% de músicas inéditas e o nome "Minha Praia" veio porque nesse disco estão estilos musicais que eu gosto de cantar e interpretar, tem axé na sua maioria, tem duas canções pop, dois riscais pop bem pra frente, e tem duas baladas românticas, daí o nome "Minha Praia". Tive uma idéia maluca que foi misturar gravações de shows com gravações de estúdio porque meu show hoje é um show de axé, é um show todo pra cima, estou com algumas músicas do repertório da música pop brasileira, mas tudo em ritmo de axé também, então é um show dançante do início ao fim, totalmente quente, e no disco de estúdio você não tem como mostrar pra as pessoas o que é isso, enfim, coloquei quatro faixas ao vivo nesse disco, e está um disco lindo, a receptividade ta fantástica.

Fizemos uma coisa maravilhosa, que é um pioneirismo no Brasil, foi um dos requisitos meus pra assinar com a Som Livre. Eu iria lançar esse disco independente, como a maioria dos artistas, porque hoje em dia as gravadoras não têm dinheiro, não tem poder mais, então, hoje se o artista não se associar a gravadora, ela não tem condições de divulgar o trabalho dele, assim como Ivete Sangalo faz com a Universal. Então eu fiz um contrato com a Som Livre, com a condição de colocar o disco na loja a menos de R$ 10, que pra mim é um preço que o consumidor pode pensar duas vezes em comprar um pirata por R$ 5, R$ 4, sem capa, com a qualidade ruim, no CD ou comprar o original, lançamento, na loja, tudo bonitinho, com encarte, com a qualidade bacana. Agradeço até, e parabenizo a Som Livre que estão sendo pioneiros nisso no Brasil.

Redação Carnasite

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