sábado, 22 de agosto de 2009

Do luxo quase pro lixo: mas estamos firmes.

Tive uma infância tranquila. Cresci tendo tudo que queria. Sempre que saia um brinquedo novo... "Olha mãe, compra?!" E ela ia lá e comprava.

Foi num tempo que tínhamos dinheiro demais, mesmo morando naqueles condomínios conjuntos habitacionais.

Meu pai, um dos fundadores da Finobrasa, uma indústria que fica no bairro Presidente Kennedy, em Fortaleza, tinha um cargo alto lá dentro e ganhava bem.

Me lembro que eu esnobava meus primos, com meus brinquedos novos, pois eles não tinham como terem também. Sempre fazía o... "Eu tenho, você não tem...."

Sempre estudei nos melhores colégios de Fortaleza, enquanto eles, em escolas públicas.

Mas com a mudança na moeda, do plano Cruzeiro Real para o Real, muita coisa foi sendo sentida. 2 anos depois, meu pai se aposentou. E naquele ano de 1996, ele começava um novo negócio, com uma empresa que ele entrou de sócio, no ramo de fiação de algodão, como fazia na Finobrasa. Com tanto dinheiro que ele teve naquela época, que comprou 2 carros 0km, mesmo pagando-o mensalmente.

Um deles, foi dado para um tio meu trabalhar de táxi, e com o dinheiro, pagava o carro. Já o segundo, foi para uso próprio, mesmo nós já tendo mais 2 carros: um Galaxie azul e um Mustang 67 - mesmo com o motor batido, estava "abandonado" na garagem lá da "Finobrasa" por anos.



Foi uma maré de sorte, porque tava indo tudo tão bem, que quando não imaginávamos, ganhamos outro carro, num sorteio daqueles bingos que passa na TV. Mas ele vendeu 1 semana depois. O Galaxie e o Mustang seguiram o mesmo caminho, no mesmo período. Com o dinheiro, investiu mais na empresa.

De repende, um susto: a empresa "quebra" e nos vemos falídos, de uma certa forma.

Meu pai acabou tendo o seu nome registrado nos orgãos públicos. A situação foi tão preta, que vi meus pais tendo que vender panos de pratos, de chão e viajando para o interior da Paraíba, pra comprar o material, me deixando, por muitas vezes, dormindo sozinho em casa.

Vi minha mãe abrir um restaurante, pra ver se ajudava por dinheiro dentro de casa. De certa forma, ajudou, mas aquilo me revoltava. Achava aquela situação humilhante. Meu pai voltou à trabalhar numa outra fábrica, mas a situação do sucesso no restaurante fez que ele deixasse e fizesse ficar lá. Apesar dos riscos de assaltos que meu pais correram, de ter que sair as 2h da madrugada de casa, pra ir ao restaurante, pelo menos no nosso restaurante fazia fila de gente na rua, pra compensar.

O restaurante, à princípio, era alugado. Mas meu pai refinanciou o carro, e com o dinheiro, minha mãe comprou o ponto.

Por mais que estivéssemos passando por dificuldades financeiras, eles escondiam a verdade de mim. Talvez tenha até assuntos que desconheço.

O telefone de casa foi cortado, por várias vezes, por não pagamento da conta, pois o dinheiro ia para as mensalidades no meu colégio.

Cheguei sim em pensar em fazer programas na rua, pra ver se botava dinheiro em casa. Mas foi mais preferível que eu abandonasse o colégio, e que de certa forma, aliviou um pouco essas dívidas.

Mesmo estabilizado, meu pai ainda permanece com o seu nome "sujo", mas por erros dos outros. Me dá vontade de chorar, todas vez que o vejo quando ele quer fazer um cartão numa loja, e vejo no rosto dele, uma frustração que não pode ser realizada. Ele deixa de comprar muitas coisas com o nome dele, por causa da dívida da empresa. Até isso, fez com que ele perdesse o carro, que nem no nome dele estava mais e até hoje deve está lá no pátio do Detran.

No meio do ano de 2004, foi uma chuva de má sorte que tivemos. Me lembro muito bem dos acontecimentos seguidos, um atrás do outro.

Até na política, meu pai quis se meter, sendo vereador. Mas quando ele viu que o partido onde ele estava, não iria mais apoiar o atual prefeito, candidato na época, em Maracanaú, ele se desligou.

E com todos esses acontecimentos, afetou de alguma forma, à mim, naquela época. Sabendo que nossa estrutura financeira era bem estabilizada, vimos uma crise que dura até hoje.

Não que hoje esteja tudo à mil maravilhas como antes de toda uma crise, mas pelo menos já há uma estabilidade nas coisas, que já podemos comprar aquilo que desejamos, realizar passeios de longa distância - senão não iria à gravação do DVD de Netinho, em Aracaju -, já temos um carro, desde 2006 - o que foi um certo alívio do meu pai ter conseguido fazer, por conta do seu nome está nos "cadastros".

Portanto, aos poucos estamos nos reeguendo. Mas não quero passar por isso de novo. Meu único sonho agora é: que meu pai pagasse toda a dívida, por conta da Reprotex, e limpasse o seu nome, porque um nome limpo na praça, não há coisa melhor no mundo e na vida.

Eu vi o quanto ele mudou daquele tempo pra cá. Achava-o mais esperto, mas hoje em dia, não posso dizer o mesmo. Acho-o um pouco deprimido, apesar de dizer que não, pois não gosto de ouví-lo se lamentando das coisas.

Na boa, vim morar em Pernambuco, nos deu uma aliviada em um monte de coisas.

Só quem vive no meio de crises financeiras, sabe como a vida é foda. Quem é milionário, nada lhes coçam. É só passar o cartão ou tirar o dinheiro da carteira, que compra, enquanto há pessoas que passa anos trabalhando pra comprar um simples computador.

Só gostaria era de poder limpar o nome do meu pai.

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